quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É natal, venha a comida amarela e o egoísmo


Cada vez mais tenho vontade de criar uma religião. Por várias razões: quero ter seguidores (é sempre uma coisa engraçada para escrever nos cartões de visita), sinto que tenho uma capacidade de pensamento digressivo suficiente para enfiar uns fulanos em vestes bizarras a fazerem coisas estranhas e uma verborreia capaz de preencher um hardcover. E gostava um dia de ver no facebook a igreja de [X] a reclamar o natal para a sua posse. Este foi um natal de gentes egoístas que queriam o natal só para elas:


Os católicos estão cada vez mais assanhados, como grupo que exerce cada vez menos respeito no segmento populacional da religião do politicamente correcto, corrigem em demasia atirando o chavão de herege e derivados para tudo o que mexa e não esteja pregado a uma cruz. Dizer que o natal é católico ou cristão é absurdo, o natal é um dia e as massas vão dizendo o que simboliza esse dia. Há anos que simboliza prendas para todos. Hoje simboliza a comida amarela e a véspera dos saldos pós natalícios. Eles estão simplesmente aborrecidos porque perderam a luta dos pastores. Animem-se, há mais não sei quantos grupos da pecuária que perderam as ovelhas para os marxistas culturais. Ao menos vocês ainda têm roupas luzidias e muitas capelinhas para encher com idosos.

Os ateus bacocos também não se safaram da festa (e qualquer bom homem de religião faça o favor de me colocar neste grupo, apesar de que bacoco é muito fraquinho para os insultos que já foram sussurrados desde o último parágrafo), aproveitaram estes dias para espalhar a sua fé e doutrina ao máximo. Mas estes conseguiram chegar a um absurdo maior do que comer pão e chamar-lhe canibalismo – se o natal não é sobre Jesus ou outra religião e não é sobre as prendas (porque admitir que o consumismo sabe muito bem é pecado para o culto do racionalismo), é sobre o quê? Estar com a família? As reuniões de família precisam de razão, seja um morto em cima da mesa ou um novo casal que decidiu transfigurar avultados fundos em comida, alianças e um DJ para passar bailaricos. Safam-se as famílias com crianças pequenas, que dão ao natal um significado maravilhoso, fazê-las passar por parvas porque acreditam num gordo rico, imortal e muito rápido. Mas esses não estão no facebook a dizer porcarias porque precisam de percorrer meio país à procura de um gormiti qualquer. Os que dizem aos filhos que o pai natal não existe, esses já estão no facebook a demonstrar a sua superioridade em relação aos outros pais burros que gostam de coisas mundanas como “diversão”. Se o Natal não tem significado, importam-se de estar calados e de ficarem em casa a fazer saladas?

O meu natal foi fantástico como sempre. Desta vez foi passado num lar, cof, perdoem-me, num “resort sénior” (não é pelo nome pomposo que não cheira a pregas faciais mal lavadas), onde comi uma óptima refeição. Falei com a minha família sobre temas tão interessantes como nada, nada e até coisa alguma. Bebi para esquecer que cada vez que abria a boca era interrompido e o menino jesus não me deixou nada no sapatinho porque a) sou herege; b) o puto acabou de nascer e já tem que estar a fazer favores. Ainda me deram algumas prendas decentes mas este ano nem embrulhadas foram. O pai natal deve estar com gripe.

Um santo natal para mim, que se há inferno eu espero já ter merecido um condomínio privado. E um bom natal atrasado para as pessoas que precisam muito que o diga, senão ressentem-se.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vá para dentro lá fora

Não sei se ainda passa na televisão (porque oh sou tão superior à TV) mas lembram-se daquele slogan ranhoso do ministério do turismo, "vá para fora cá dentro"? Parece que agora a tradição é a contrária!

"Oh não, lá vem mais um palhaço a falar sobre a emigração"

Concedo que sou um palhaço (neste tempo frio até me gabo de um nariz vermelho) mas sim, vou falar do que é emigrar e do que poderá ser a curto prazo um caminho que vou ter que seguir. Porquê? Porque da mesma forma que penso que ainda não se apurou a trágica dimensão deste incentivo mascarado à migração, a maioria das pessoas que falam à boca cheia sobre "votar com os pés" não entende os problemas que isso acarreta.

Quem decide realmente tirar os pés de Portugal não o faz de ânimo leve na maioria dos casos. A vida é repleta de escolhas e de relações custo-benefício. Tirar uma holding de Portugal para outro país não é uma escolha propriamente difícil. É ficar e ser violado repetidamente pelos impostos ou sair e ser tratado de uma forma mais digna. Mas uma pessoa não é uma holding, é um organismo inserido numa família, numa comunidade, que tem que abandonar mais ou menos fontes de prazer e de segurança para ir para um local onde as recompensas são maiores mas os riscos também. Depende muito de quem temos à frente mas em regra geral não existem muitos "batmans" ou "max payne", que não têm nada a perder em abandonar tudo.

O que é que isto nos diz? Bom, isto diz que a tendência cada vez maior de abandonar o país é reflexo de uma relação custo-benefício cada vez mais marcada, privilegiando a recompensa e pondo os custos em segundo-plano. O que é ficar em Portugal hoje para o jovem comum?

É provavelmente estar sem emprego. As oportunidades não abundam e trabalhar sai muito caro ao empregador. Quando ainda vai havendo empregador... um senhor chamado Cavaco Silva vai muitas vezes à televisão (só sei porque me contaram) e ao facebook apoiar os jovens investidores... mas o que os jovens investidores precisam é de um bom psiquiatra para cuidar da psicose. Quem é o alucinado que abre uma empresa neste país para ser drenado em impostos, produzir caríssimo devido a mil regulações e no fim não encontrar um mercado interno porque os governos sucessivos trataram de dizimar o poder económico das pessoas? Não é preciso ser um génio para olhar para os números de falências. Só abrem empresas os alucinados ou aqueles que têm a oportunidade de entrar no jogo dos monopólios estatais.

É ter a certeza que reforma é uma palavra que se aplica a eventos burocráticos do tentacular estado. Nada tem a ver com aposentação. Reforma é o que se faz à educação para dar a impressão de que existe um esforço para tratar das crianças, é o que se faz na saúde quando um ministro quer que algo funcione de outra forma (não tem que funcionar bem, apenas diferente). Os jovens não devem preocupar-se com as suas reformas... até porque não as vão ter. Aqueles descontos para a SS são o oxigénio que vai segurando o paciente com cancro do pulmão. Todos sabem o que lhe vai acontecer no final...e não é uma cura miraculosa.

Quando no passado ainda havia a oportunidade de esperar, hoje o jovem não se sente bem em casa com um ou dois pais desempregados. Tem que ir ganhar o seu pão. Se não é aqui tem que ser noutro lado.

Estes problemas vão atingindo as pessoas de forma gradual. O difícil é "cada vez mais difícil", um limite a tender para o impossível. A juventude mais ou menos formada que sai hoje de Portugal é desenraízada e substituída por imigrantes de países ainda piores que o nosso. Os que chegam cá não são portugueses. Os nossos emigrantes, quando voltarem nas férias, não vão encontrar Portugal como o deixaram. Vão ver uma colónia de outro país qualquer, vão ver uma amálgama que de portuguesa só tem os seus pais, e nem isso quando eles morrerem. E aí até os nossos "portugueses no estrangeiro" vão deixar de o ser, deixam de ter nacionalidade e passam apenas a ter passaporte de uma terra.

O "estado", ou seja, o ideal socialista que tem sido aprovado continuamente pelo povo português, vai então ter o efeito catastrófico de se matar a ele próprio ao implodir com o Portugal que conhecemos. É um fenómeno possível, basta continuar neste caminho (e a federalização apenas vai ajudar). Nesse dia, no dia em que os portugueses forem uma malha que popula em pequenas concentrações alguns locais do mundo, estes podem começar a pensar como vão reclamar um pedaço de terra para estragar tudo de novo.

Por agora vou preocupar-me com a minha sobrevivência, este povo masoquista está em segundo ou terceiro plano. Se os que me são chegados quiserem tirar os pés da fogueira, que me comprem um bilhete que eu cá não fico!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Quando a razão não chega, a gasolina arde melhor


Todos os dias eles controlam as nossas vidas. Convencem-nos que são vitais, que tratam dos nossos problemas, que precisamos deles e que sem a sua presença, não haveria ordem, seria a anarquia total, a lei do sujo, ruas intransitáveis e cada pessoa a tentar valer-se por si, sem amor ou atenção pelo vizinho.

A realidade é outra e as pessoas não a vêem. Resignadas, algumas contentes, levam o seu produto até eles, quase escravas. Escravas mesmo, uma escravidão da mente, oxalá um dia se apercebam. Até lá eles andarão felizes e contentes na rua, no meio dos seus rebanhos, sempre bem aperaltados, todos iguais, todos sorridentes. Entre o seu gado, estes pastores nunca terão medo. Cabe-nos a nós ensinar-lhes que ainda há quem lute contra os opressores.

Lutaremos até morrer. Lutaremos mesmo quando todos desistirem. Verão os nossos petardos rebentar nas vossas bocas, verão os pneus a arder no meio da estrada e as máscaras que ocultam os nossos rostos enraivecidos enquanto vamos buscar-vos, a vossas casas, diante do incapaz braço da polícia. E saberão que aí jaz a última paragem das vossas nojentas vidas.

Ver-vos-emos a arder e cantaremos hinos de liberdade. Não queimarão sozinhos, convosco arderão os vossos gordos companheiros, constantemente à procura das vossas sobras, pedindo sempre tratamento especial e incapacitando ainda mais as nossas vidas.

Não há polícia que pare o espírito do povo. Não há ordem tirânica que impeça o braço da justiça popular. Não dormirão descansados esta noite com o cintilar no fundo das colunas de fumo que se erguem no horizonte. Os mais pequenos são sempre os primeiros a cair. Mas os caixotes do lixo grandes ardem da mesma forma. E os ecopontos também… excepto o vidrão.

O povo não será livre enquanto houverem caixotes do lixo.

domingo, 11 de novembro de 2012

Produtividade vs Gatos

Em primeiro lugar quero expressar o meu espanto ao visitar este blog. Comecei por meter o título no google porque não fazia ideia do hosting que estava a usar (depois de tanta experiência com o wordpress, usar o blogger é como resolver física nuclear com uma criança com síndrome de Down que por acaso também está na casa de banho com gastroenterite). Foi espantoso como o Cavalo Colombo aparece como primeiro resultado na busca... mas presumo que tal se deve ao nome ser absurdo.

Oh gatinho! Não consegues fazer uma duckface!

Quando cá chego deparo-me com textos que não fazia ideia de ter escrito e a data infame de junho, o último post. Talvez mude o blog de localização... mas isso implicava alterar uma alocação de tempo em que estaria a ver gatos.


Adiante com coisas (igualmente não) importantes,

Deixo a questão, alguém se lembra da internet antes dos gatos? Eu não. Já pensei em procurar mas (obviamente) acabei num site de gatos... ou de corgis (que são o equivalente canino de gatos pouco asseados). 

Se me tento lembrar de algo antes deste fenómeno que impulsionou a falta de produtividade para níveis soviéticos, apenas me ocorre o farmville. E ainda assim esse fantástico jogo (e pensem em mim a falar num tom de voz superior porque nunca joguei) ainda requeria algum planeamento, alguma interacção. Ainda existia algum resultado! Era uma grande empreitada... para construir uma quinta... virtual... no facebook. Era uma vergonha... mas com produto final.

E os gatos são piores. São horas perdidas entre scottish folds, maine coons, british short furs, golden shaded persians, a navegar sem verdadeira direcção, ovários e festa (tanto em homens como mulheres). Não me refiro a festa como um aniversário de delegados de informação médica, antes uma celebração nacional mexicana, com confetis, animais em espetos, fogo de artifício a rebentar no ar e nas mãos. É tão grande a excitação das gónadas femininas que nem sequer se dá a ovulação, porque pode estar frio nas trompas e então é melhor o oócito levar um casaco ou ficar em casa.

Hoje decidi aprender a programar para o Android. Em parte para desenvolver programas que sejam incompatíveis com o iphone, em parte por...não, é mesmo só por isso. Mas a minha tarde foi absorvida a partilhar a experiência da minha namorada, a ver gatos a sentarem-se em coisas e a serem inaptos a realizar tarefas humanas.

Pela falta de produtividade de hoje, amanhã não vou poder gozar com os meus colegas detentores de spawn do Steve Jobs.

...mas ao menos vi gatos... talvez no meu futuro isso seja importante.


Concluíndo muito mal (porque não sei bem onde deixar esta peça de informação fundamental), penso que as duas grandes prioridades da ONU deveriam ser

a) gatos;
b) a Internet... como meio de distribuição de fotos de gatos.

Ah... e vão aqui: Mythic Bells
Divirtam-se!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Se eu te bato é só porque gosto de ti

Jesus Cristo ficaria orgulhoso de nós!
(Quando me referir a médicos estou a tratar da maioria e não de algumas excepções que não fazem diagnósticos diferenciais quando uma tosta sai queimada)

É o lema de todos os pais que gostam de assentar a mão (ou o cinto) nos filhos. É assim que se corrigem os erros na educação, com reforço pavloviano. Talvez às vezes funcione. Neste caso não vai funcionar.

Para quem não sabe, vai haver uma greve dos médicos no mês de Julho. Para quem não sabe porquê, existe a causa principal e as justificações. Segundo as notícias, ao mesmo tempo que cessam os novos contractos na função pública médica, o ministro da saúde decidiu contratar uns quantos milhões de horas para tapar buracos nos hospitais: para atender doentes indiferenciados nas várias situações que o justifiquem. Isto ao mais baixo preço. Os médicos queixam-se, não admira. Afinal de contas aquela ideia de obrigar o mundo todo a fazer contracto é só válida para quem não pertence ao SNS? Um médico quer a sua estabilidade!
Tudo bem até aqui, aliás, eu até concordo que o esquema é uma palhaçada. Mas onde acabam os factos começa a burrice, burrice constatada nas conversas de café e nos grupos do facebook que tenho visitado.
Os profissionais de saúde têm sido vitimizados pelas paralisações dos transportes públicos. Felizmente são melhores que os maquinistas, eles estudaram mais, eles têm uma ética (dá-se no 5º ano e é obrigatório passar). Os médicos quando fazem greve não prejudicam as pessoas! Sim, não estou a brincar, há quem tenha dito isto. Mais que um! E não eram psiquiatras! Quando fazem greve existem serviços mínimos na mesma, o equivalente ao hospital de fim-de-semana. Ninguém fica por tratar… isto se for urgente. Pelos vistos para alguns médicos o facto das pessoas de 2 dias terem a consulta adiada sabe-se lá para quando não é problema nenhum. Não é urgente, urgente é lutar pela dignidade da profissão. Ao menos os maquinistas não mentem a eles próprios…

Quando o monge da saúde toma a bata branca abdica de toda a sua vida. Ou pelo menos alguns colegas de profissão assim pensam, que passam sempre a pôr a saúde dos doentes em primeiro lugar. É um ideal bonito. E é por isso que quando os médicos fizerem greve, estarão a fazê-la pela saúde das pessoas! Não tem nada a ver com interesse pessoal! As pessoas não podem passar com esquemas económicos de redução de despesas que comprometem tão francamente a qualidade de saúde. O objectivo do estado é literalmente contratar pessoas pouco qualificadas, sem especialização. A pergunta que uma pessoa normal (presumidamente com senso comum) faria a seguir é “e o que fazem os estudantes durante 6 anos que no fim ainda não são capazes de fazer urgência básica?”. Eu não sei responder a essa pergunta. Possivelmente terá a ver com o tempo que se perde em coisas como
- Introdução à medicina
- Medicina preventiva
- Ética
- Medicina Geral e Familiar
- Aulas de 2 horas sobre lavar as mãos

…que poderiam ser tratados em 1/10 do tempo, deixando mais para o importante. Eu pessoalmente sou da opinião que quando uma pessoa tira um curso de 6 anos era interessante ter alguma saída directa para o mercado que não fosse “saúde 24” e “call center da tmn”. Mas isto sou só eu.
Continuando, os médicos então fazem greve para precaver o futuro dos utentes. Belo. Porque se fizerem, o ministro vai encontrar dinheiro debaixo da cama para pagar as contas que o SNS anda a fazer. E porque vai ter todo o interesse em fazê-lo. Ou então não. A greve dos maquinistas, ao contrário da greve dos médicos, chama a atenção. As pessoas não podem ir trabalhar, não têm mobilidade, as estradas escorrem carros por todas as saídas, milhares de vidas são infernizadas e a popularidade governamental sofre com isso. Se os professores fazem greve há 30 pais por professor que não sabem o que fazer com os filhos, estão parados a vê-los atrasarem-se no programa e darem cabo do futuro. Quando o Santa Maria não fizer consultas durante dois dias quem vai dar por isso? Talvez uns 15 doentes por médico. Vão ter que remarcar, esperar mais um pouco, vão apanhar o metro de volta ao trabalho enquanto dizem que é “uma maçada”. Se estiverem mesmo doentes vão ter urgência na mesma. Uma semi-paralização médica é uma chatice, mas se o metro está fechado é um escândalo. E o senhor Macedo vai ligar a isso? Claro que sim! Era feio se não fosse dizer à televisão que vai tentar acomodar os “nossos” interesses o melhor possível. Vai ser evasivo e vai ficar tudo na mesma. Se a greve raramente funciona para os maquinistas, então para os médicos vai ser tão eficaz como a pílula de açúcar.

Mas ai de quem diga isto! Aliás, umas pessoas disseram isto. A “classe médica” revelou então a sua classe enchendo os pulmões de falácias lógicas e arremessando-as como vómitos explosivos. Tiros a torto e a direito mas saliento os dois melhores, o “tu não és médico, não percebes nada de saúde” e o “tu és muito novo para perceber o que é a luta de um trabalhador”. Já que o primeiro foi lançado a um economista doutorado, entende-se. Afinal de contas os raciocínios que eu aqui apresentei estão errados nitidamente, nunca foram provados pela experiência e são desprovidos de base lógica. Visto que o economista também os apresentou mas não sabe o peso de uma bata branca de algodão e fibra sintética, não sabe do que fala. A saúde não gasta dinheiro, metem-se miminhos no chão e a árvore das patacas deixa cair cateteres e máquinas de tomografia. Outros incultos, entre ciências políticas e engenharia são igualmente incapazes de perceber as necessidades do SNS. E aquele tipo que tinha menos que 20 anos? Então, esse não sabia nada do que é trabalhar! É preciso respeitar os mais velhos, com mais experiência. Por isso é que eu oiço sempre a minha avó quando diz que as queimaduras se tratam com manteiga. Quem está debaixo da árvore tem a visão completa das do topo. Aqueles tipos que ali vão a passar de helicóptero deviam estar calados.

Resto eu, um parvo inculto que não sabe nada da vida, a ovelha negra dos estudantes de medicina, que sabe-se lá como passou nas entrevistas inexistentes de admissão à faculdade, diabo sem uma réstia de compaixão. Eu sou ignorado, para ser insultado na privacidade das casas de médico. E eu sou aquele que pede desculpa.

Peço então desculpa a todos os que foram insultados pelos médicos por não partilharem dos seus ideais paladinos. Peço também a todo o profissional de saúde que contemple o problema pelo que realmente é: as estruturas governamentais nunca podem oferecer confiança; a saúde não fica mais barata graças ao SNS, só fica mais cara e pior.

E àqueles que pensam em vir chatear com o sistema privado dos EUA, não existe sistema privado nos EUA, existe um sistema em que o governo oferece monopólio às seguradoras, cria estruturas que aumentam artificialmente o preço da saúde e mais de metade da população está abrangida por um plano de saúde público (efectivamente mais uma vez não se pode confiar no governo). Procurem antes outro país para dar maus exemplos.

sábado, 16 de junho de 2012

A GALP e o racismo

Disclaimer: Todo este texto é uma obra de ficção, sendo que nenhuma parte do conteúdo está apoiada em factos reais. Não foi o interesse do autor o de manchar o prestígio das entidades referidas. O autor não defende ou suporta qualquer parte do texto abaixo. Leia-se "não quero ser processado".

Em princípio já sabem que o tema deste Europeu (com E maiúsculo senão o Rompuy ainda me processa) é o respeito. Respeito pelos outros géneros, pelas outras raças, respeito pelos mais velhos, mais novos, pelos youths, pelos chavs, respeito pelos cortes de cabelo parvos com um lado da cabeça rapada.

Mas a galp quer ver o mundo arder. A galp não se interessa pelo respeito, quando diz 11 por todos, não se refere a todos os europeus, mas sim aos portugueses; dito de outro modo, está a apoiar a segregação.

É retrógrado e injusto que o Cristiano Ronaldo só possa jogar habilmente por uma nação, discriminando contra os outros apenas porque nasceu numa ilha portuguesa. A UEFA está ciente disto e reconhece os problemas do futebol, a clivagem entre duas equipas, a não partilha de golos, por vezes até a violência entre entes da mesma espécie! Ainda assim esta toma uma posição muito nobre, até divina; a de apresentar a conjuntura que cria como um desafio, para que as pessoas saibam resistir à tentação de voltar a princípios bárbaros como apoiar a sua equipa ou até a prática vergonhosa de antagonizar as outras.

Entra em cena a gasolineira que, cito, "mais vale usar óleo de batatas que a gasolina deles". Com a pura e vil intenção de ganhar dinheiro e captar mais clientes, ela recorre à falácia publicitária, bombardeando os portugueses com apelos ao seu lado animal, a reverter de volta a antigas construções sociais de nação, efectivamente incitando ao ódio e violência. Talvez um dia esta esteja no cerne de uma nova guerra na europa e tudo terá sido para vender umas t-shirts a 30€.

Há que notar que esta manobra publicitária tem sido extremamente bem sucedida em pequenas áreas de plebeus mais intelectualmente incautos (não inferiores, visto que somos todos iguais). Mas os esforços tornar-se-ão efectivamente fúteis, na minha modesta opinião. Note-se que o processo de diluição das nações é manifestamente visível na composição das várias selecções. Apenas a Ucrânia, creio, não tem vindo a adoptar um processo de importação de jogadores de outros países, eventualmente fazendo deste país o mais racista e apegado a tradições absurdas e mortas. Fora este infeliz exemplo, vê-se que a mundialização é inevitável. A europeização é apenas um pequeno passo, necessário mas miserável no seu cerne por discriminar entre o europeu e os outros.

Quanto à GALP, ficará sem o meu dinheiro, aquela pessoa que me vira contra o meu irmão espanhol, o meu irmão francês, italiano, checo, polaco, etc, é persona non grata.


Nota posterior: Segundo fui informado, parece que existem mais alguns países na situação lamentável da Ucrânia

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Porque é que oiço o mp3 de manhã

Queria escrever algo com piada mas vejo-me com um pequeno problema para executar tal feito: não estou com sentido de humor nenhum. Então vou fazer o que vejo tão bem feito na televisão: criticar. Afinal de contas é esse o caminho de todos os políticos cuja lâmpada de presença na praça pública se fundiu.
Hoje penso que o melhor programa cómico português é possivelmente a missa de domingo na TVI. Acho que conserva aquele bonito esplendor da comédia clássica, da comédia inocente, de dizer patacoadas suficientes que peguem, fatos luminosos e meio idiotas. É o tipo de humor que deixa uma pessoa feliz e sentindo-se bem.

Isto leva obrigatoriamente a exprimir o meu profundo desagrado pelos comediantes profissionais portugueses da actualidade. E isto não é novidade, a evolução da comédia em Portugal não se faz desde que o gato fedorento passou a dar entre a programação normal e mudou o nome para "meo".

De entre os comediantes todos, aquele que mais admiro é no entanto o Ricardo Araújo Pereira. Ele conseguiu duas coisas impressionantes, tornar-se o homem mais engraçado de Portugal a falar de forma estranha e a interpretar personagens que falam também de forma estranha e ao mesmo tempo passar-se como mais divertido que o Zé Diogo Quintela que
a) tinha muito mais pêlos;
b) era "fortezinho";
c) conseguia fazer humor usando a sua própria voz.

Há que realçar também outro monstro do humor (e este honestamente acho piada frequentemente), o Nuno Markl. Graças a ele inúmeras vidas foram poupadas. Basta ouvir todas as rubricas dele que damos logo mais valor à nossa infância. Afinal de contas nem nos meus piores dias fui tão introvertido, azarado e sexualmente desafiado como o Nuno. Agradeço-te do fundo do coração (a sério, não fosse pelo Nuno Markl, já tinha mudado de nacionalidade por vergonha do que passa por humor em Portugal).

E antes de terminar este texto mal construído, constituído por pequenos desabafos, queria falar daquele que é o maior parasita da comédia, aquele que faz os outros tirarem o chapéu (para cobrir os olhos e vomitar lá para dentro em caso de necessidade), o Nilton. O Nilton, à visão de uma pessoa que nunca o suportou, fez a sua vida profissional com 2 artifícios:
-Entrevistar pessoas enquanto olha para a câmara com os seus óculos de massa, dando a impressão que é mais cool que isso e que está a fazer um valente frete;
-Dizer às pessoas "eu amo você". Mesmo tendo em conta que essa frase ficou sem controle e passou a ser utilizada por todos os miudos mais hip, houve uma altura em que naquela cabeça passou a ideia "hm, e se eu disser eu amo você a pessoas aleatórias? Vai ser muita giro, não vai?". Enough said.


Tenhamos em conta que eu não sou comediante. Eu tento ter piada de vez em quando. Normalmente sai tudo ao lado e acabo por fazer as pessoas rirem-se de mim por pena. Mas também não tenho obrigação disso. O Cavalo Colombo não foi feito para fazer rir, não estudei teologia e não recebo dinheiro para ir à radio comercial fazer sotaques a uma hora em que o adormecido super ego das pessoas não as impede de filtrar o que tem piada do que é equivalente a ir à mercearia na terrinha.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O desabafo do homem desesperado

O dia estava cinzento, com uma brisa que seria muito mais apreciada se fosse verão. Hoje cortava como farpas de gelo, ressaltando na gabardina mas deixando as suas marcas na cara de Jobim. Ele mantinha a sua rota apesar de tudo, em direcção ao parque infantil, abandonado há muito, destruído pelo tempo e pelos drogados. “O parque é como eu”, pensou enquanto caminhava, “ele está à espera, mantém o seu propósito, não quer adaptar-se, apenas quer cumprir a sua função”.

Jobim sentou-se no único banco que mantinha alguma integridade estrutural. Sentiu o orvalho a trespassar a roupa mas já era tarde demais para o evitar. O ressentimento cessou ao chegar outro, o seu contacto, que com determinação e fluidez se sentou e esperou, olhando para a ferrugem e decadência.

“Não sei se posso continuar a fazer isto. Estamos a viver a maior mentira do mundo e ninguém quer sair da bolha de negação. Divertem-se com pequenos circos e encobrem a sensação de inutilidade disputando pequenas lutas. Eu participo para não levantar suspeitas, olho para eles e sinto uma tristeza profunda. Não foi isto que escolhi, nunca pude escolher. Um universo com humor negro colocou-me nesta posição ingrata, a de ver tudo arder tendo um extintor na mão, à espera que me puxem a cavilha de segurança. Sou o salvador em bruto, à espera. Leva-me contigo, para fugir e nunca mais pôr um pé no meio da multidão inculta e acéfala, permanentemente a esculpir falsos ídolos na praça com as forças que negam a eles e às famílias”. Jobim parou e retomou o folego. Continuou. “Como consegues tu viver no meio desta farsa com tanta facilidade, orientas-te pelas ruas como se fossem tuas, olhas nos olhos dos outros como se todos te devessem algo que pela tua misericórdia nunca cobrarás”, a sua voz perdia continuidade, falava agora com emoção, entre soluços de um choro que lhe tomava todas as forças para contar, “Diz-me, diz-me como!”.

O outro mantinha-se impávido desde que se havia sentado. O frio e o vento não lhe faziam diferenças, os pêlos ruivos pareciam indiferentes ao estado do tempo. Deixou que um minuto de silêncio desse a hipótese a Jobim para retomar a expressão pétrea e endurecida que a emoção lhe tinha roubado. Finalmente olhou para ele, com uma expressão jovial, não aquela que lhe tinha sido referida há pouco mas uma de compaixão e curiosidade pela vida e pelo futuro. Preparou-se para lhe dizer as últimas palavras que pronunciaria neste banco, neste parque, a este pobre homem de gabardina. Finalmente retorquiu, “meow”.

O seu trabalho estava feito. Colocou uma pata na perna de Jobim, de seguida outra e saltou para o seu colo, apenas por um segundo, e foi-se embora para nunca mais ser visto.

E foi a última vez que o tareco visitou o parque.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

O corpo de deus e os manjericos

Exemplo de uma overdose de manjerico


Há tradições que sempre me confundiram um bocado. Uma delas é o feriado do corpo de deus. Pronto, esse nunca me confundiu, só este ano pela primeira vez soube porque é que quinta-feira não houve aulas. Mas parece-me que numa perspectiva laica do estado (apesar de participar nos cultos keynesianos e europeístas sempre se vai dizendo que não vai para a cama com padres, antes que apanhe alguma doença venérea) estar a atribuir férias para as pessoas irem à missa é aborrecido. Especialmente mau é para os ateus que saem sempre prejudicados porque ninguém lhes concede dias para irem visitar museus por obrigação. Temos sempre que andar às cavalitas dos feriados religiosos e ainda vamos comendo com boquinhas porque não vamos à igreja/sinagoga/mesquita.

Outra coisa que não faz sentido na minha cabeça é a relação entre deus, o santo X (não sou teólogo, estou-me borrifando para esta religião politeísta) e os manjericos. É algo mais ou menos parecido com a ressurreição e o coelho da páscoa mas com a agravante de em vez de comermos chocolates… não… vamos apalpar o rabo aos manjericos e chegar a mão à cara. É parvo. Pensem, é realmente estúpido. Eu que não me dou particularmente com essências naturais tenho a possibilidade de o presenciar mas você leitor tente tirar a mão da cara, pare de aspirar que não é um anúncio da depuralina e maravilhe-se com o espectáculo – toda a populaça de volta dos manjericos que parecem um grupo de raparigas quando chega o catálogo da oriflame ou os médicos quando entra na enfermaria o delegado de propaganda informação médica para fornecer canetas relógios bilhetes conhecimento.

Então para o ano já não há corpo de deus à quinta, passou para domingo. O secretariado da igreja chegou a esse acordo com o governo (provavelmente ameaçaram-nos de começar a cobrar impostos como ao resto das empresas). Os fiéis entrevistados pela sic dizem que está mal, que não é por um dia que o país fica melhor ou pior. Eles bem sabem, todos os meses a reforma lhes chega na mesma aos bolsos para irem à paróquia estufar o estômago em corpo e sangue de cristo (só falta levarem os sais de frutos na carteira), nenhum reformado foi sequer despedido pela segurança social, a crise é do fabrico dos jovens e medidas destas metem todos no mesmo saco! Mas se eu fosse deus (não estou a implicar que não sou, refiro apenas um caso hipotético que pode ou não corresponder à minha pessoa\divindade) ficava aborrecido. Não chega já mandar um filho para a terra para as pessoas idolatrarem um obeso mórbido com mau sentido estético, deixá-lo morrer para as elas rebentarem a dieta com ovos de chocolate, no dia em que era para se deleitarem no meu corpinho têm que o fazer no meu dia de descanso? Não me chega já aturar os escuteiros na missa de domingo a massacrar as guitarras?

Há muita coisa que realmente me confunde. Mas ao menos não ando aí a meter manjerico para o septo nasal.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Precisamos mesmo de saúde?

 

É esta a pergunta que os capitalistas fazem. Todos eles consideram que a saúde é um bem como qualquer outro, e como tal é inteiramente dispensável, aliás, reservado para aqueles que possam pagar por ele – Os patrões e herdeiros de fortunas, a maioria deles corruptos até à medula. Isto nunca os impede de recorrer às urgências quando necessitam no entanto.

 

Claro que para desarmar um neoliberal é necessário argumentar neste assunto desde a origem (o capital que é taxado principalmente aos mais ricos) até ao seu destino terminal (o tipo de cuidados que é administrado ao público).

 

O neoliberal começará por presumir que qualquer imposto ou taxa que não seja cedido ao estado por mútuo acordo é extorsão, o que inviabiliza o SNS ou qualquer outro serviço público. Mas o mútuo acordo é quebrado ainda antes disso, sendo que o capitalista que enriquece, apenas o faz à custa do estado e distanciando-se da média financeira, empurra o resto das pessoas para o fundo e tornando o seu capital mais rarefeito à medida que o primeiro o acumula. É a administração central, com os seus serviços de segurança e apoio que permite que qualquer pessoa possa exercer actividade, logo, já que o empresário recebe a contribuição do estado para roubar o seu alegadamente justo quinhão, também tem que pagar a sua quota para continuar a exercer funções. Em suma, o neoliberal confunde uma extorsão com dois acontecimentos afastados que concatenados tomam a forma de mútuo acordo.

 

Seguindo o rasto dos fundos passamos à distribuição, e é aqui que o SNS começa a mostrar vantagem em relação às firmas privadas, pela sua capacidade de distribuir justa e equitativamente o orçamento da saúde pelas zonas que o necessitam. Enquanto uma clínica privada é moldada pela população que serve, prestando piores cuidados se os fundos auferidos não forem suficientes, o SNS permite que se calcule os custos correctos para servir uma população e manter padrões de qualidade, tanto pelo influxo contínuo de capital como pelo monopólio da formação dos médicos, um monopólio de qualidade (tal não se verifica com os enfermeiros levando a diferenciais avassaladores de qualidade e taxas de desemprego igualmente preocupantes).

Graças ao SNS o idoso de Montalegre pode ter a certeza de um cuidado tão capaz quanto um operário fabril na capital.

 

O mais duvidoso argumento contra os cuidados de saúde públicos é possivelmente o da existência da terceira pessoa no tratamento do doente. Explica o neoliberalismo que ao receber o salário de um terceiro envolvido, o médico não se preocupará em tratar adequadamente o doente, aliás, até poderá ter o incentivo de o tratar pior e tentar que este mude de médico porque afinal de contas um doutor com 1000 doentes ganha o mesmo que um doutor com 500 no serviço público. Há um certo mérito neste departamento por parte do oponente do SNS, é verdade que existe espaço de manobra a que existam maus profissionais e este cenário se concretize. Mas isso não significa que a receita pública deva ser suplantada por um veneno privado, deve sim ser adaptada à realidade. Basta apostar no ensino de qualidade para formar especialistas íntegros, recorrer a avaliações dos profissionais por uma entidade pública mas isenta e impedir a mobilização dos doentes para outros médicos (que deixa de ser necessária se o estado garante a qualidade de todos os seus empregados).

Referi-me ao argumento como duvidoso porque dá-se nele uma comparação blasfema, a de comparar um médico com um contabilista. Os médicos não tratam máquinas à espera de ser pagos, eles devem tratar sim doentes (por vocação) e obter por isso um rendimento é uma questão secundária. Só num utópico (felizmente) paraíso capitalista é que teríamos clínicos tão isentos de compaixão que a questão de quem lhes paga pudesse ter algum peso. Há maçãs podres em todos os pomares mas são estatisticamente irrelevantes.

 

Virando-nos para os dados disponíveis, a interpretação neoliberal é que as dívidas falam por si, o SNS não funciona. A situação é sem dúvida de lamentar mas é em grande parte resultado do enorme investimento que teve que ser feito pós 25 de Abril para cobrir a população toda em termos de saúde. A concretização desse projecto originou algumas lacunas logísticas, hospitais a funcionar em excesso de capacidade logo com excesso de despesas. Salvo os gestores corruptos que por experiências público-privadas tiveram lugar em gabinetes dos hospitais, estes estabelecimentos funcionam de forma bastante eficaz, apenas com orçamentos desadequados à realidade que vivem. A resposta a este problema passa por aumentar essas verbas, retirando-as de projectos menos importantes ou levantando-as do grande capital. Um reforço na caça dos que fogem ao fisco resolveria muito rapidamente os défices do SNS, no entanto é uma tarefa complicada quando o dinheiro se protege a ele próprio.

 

Um amante da sociedade não pode virar costas ao pobre estado em que o SNS se encontra. Mas esta posição sombria não o deve entristecer, deve sim levá-lo a aperfeiçoar esta máquina, prevenir gastos desnecessários e melhorar sempre a qualidade. Olhar para o sector privado (que apenas piora o problema) como uma solução é admitir que nem todas as pessoas merecem a vida, uma afirmação que apenas a mais cruel das pessoas pode fazer.

 

Queria finalizar este texto dizendo que não concordo com absolutamente nada do que escrevi, nenhuma destas explicações tem um mínimo fundamento e basta estar doente e visitar o serviço de urgência para se perceber que a saúde em Portugal é uma lotaria e que aos olhos do estado cada doença tem um preço, independentemente das particularidades da pessoa em que ela está.

 

Quem se identificar com o que eu tenha dito nitidamente precisa de tirar um ano para aprender como o mundo funciona.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Um post sobre iogurte

Se parecer incoerente nesta crónica é porque entretanto já estou com febre.

Suponho aqui que saibam todos o que é iogurte (para os mais desinformados consultem http://pt.wikipedia.org/wiki/Iogurte )

Então, já que estou com a devida falta de apetite que só a doença ou a comida da cantina sabem proporcionar, aproveitarei o consumo do iogurte para ponderar sobre ele. Aliás recomendo que todos ponderem sobre as suas acções e objectos do quotidiano frequentemente.

Qual é o trade-off do iogurte em relação ao leite?

O primeiro tem várias vantagens quanto à variedade de formatos e sabores, um mundo que o leite começou a explorar apenas muito recentemente e com atroz insucesso -- enquanto não se aperceberem que o cálcio não sabe a nada, as suas fórmulas manter-se-ão à margem do mercado do sabor que é o mercado ocidental da comida. Por outro lado, e isto é algo muito importante, o iogurte funciona muito mal como tema de fetiche. Castelinhos de iogurte são muito giros mas a piada é mais para a criançada que para os pais. Isto não significa que não haja um visionário que venha revolucionar a ideia do iogurte como objecto de cariz sexual e léxico habitual do trabalhador da construção civil, mas por agora trato dos factos que existem e não de futurologia.

Posta de parte a grande lacuna entre o pai leite e o seu filho, tratemos do iogurte líquido vs. sólido, começando por uma questão muito importante: quantos de vós pensam no iogurte líquido como verdadeiro iogurte? Nas inúmeras ocasiões em que vem à conversa, pensamos no activia líquido ou pensam todos nos aromas da danone que trouxeram cor (apesar de serem brancos) à nossa infância?

Há que fazer uma ressalva importante, o condutor, o estudante e o funcionário público, em regra sempre atrasados, beneficiam muito da tecnologia líquida que lhes permite nutrição em movimento. No entanto carece sempre a técnica, afinal de contas comer um iogurte sólido é como comer uma oreo, há que lamber o papelinho e ser consistente no modo como cada colherada penetra na massa semi-rígida. Se existe ciência, a de comer o iogurte é a mãe de todas elas!

Terminando a discussão de consistência queria deixar muito claro que iogurte cremoso é o equivalente de pintar uma parede de cada cor na sede da ACAPO. O que eu quero é talhar o meu alimento sem que ele perca a sua estrutura física, não tratar de uma avalanche e ficar enjoado porque comi muito depressa!

Assim sendo as próximas instâncias da palavra "iogurte" (que já foi usada aqui mais do que "esperança" em época de campanha) tratarão apenas do irmão sólido dentro da família.

Então e sabores? Ou o iogurte natural?

Dentro dos pedaços, a minha opinião pessoal é evitá-los como o diabo da cruz. Para mim não faz sentido nenhum, porque não dão os pedaços à vaca para ela os transformar em pré-iogurte? Ou porque não trituram aquilo? Se eu quisesse bocadinhos de alimentos entre os dentes comia bolachas maria!
Já o aroma é uma história diferente. Abraço o aroma e recomendo a variedade de modo a não enjoar e/ou acumular muitos tóxicos que possam porventura existir(conselho "verde" do dia).
Quão arrogante é chamar de natural a um iogurte... eles são todos produzidos em fábricas por acção do Homem, apenas diferem nos produtos que são adicionados posteriormente. E o próprio nome se desfaz em mentiras com o advento do "iogurte natural açucarado", em que um terceiro passo é adicionado, aromatizando-o, e desfazendo por completo o mito do iogurte natural. O "natural açucarado" não é só o destruidor do irmão mais frugal como é uma ideia que destrói a vida de inúmeras crianças no globo! Isto porque nega a capacidade de adicionar o açúcar em medidas "adequadas" ao esforço físico posterior e normalmente quando a avó não está a ver.


O mundo dos alimentos lácteos é um cheio de mistério e espaço para evolução. Um ser simples como eu não pode deixar de olhar para o futuro e pensar no que a Danone vai criar a seguir e quanto tempo vai demorar a sair uma marca branca do mesmo produto.

Orgia bacteriana

Orgia bacteriana não tem nada a ver com o que tenho, muito provavelmente trata-se de algo viral. Mas, como muitos devem saber, os vírus são meramente partituras que as nossas células vão tocar com a flautinha de pan.

As bactérias sim, conseguimos imaginar-lhes uma personalidade. São os bullies gordos da escola que andam a comer o almoço a toda a gente e a provocar o caos generalizado. Quantos de nós já ficaram impossibilitados de atender a compromissos por causa de uma bactéria? Quando se trata de um vírus encolhemo-nos em resignação, "a culpa é do meu corpo que acha que tudo o que é ADN é para multiplicar como se não houvesse amanhã". Se o médico nos fala de uma bactéria, sei lá, um streptococus, ficamos logo a pensar "se te apanhasse e não fosses tão pequena levavas uma bofetada na cara que pensavas logo duas vezes em acampar no meu sistema respiratório!"

A bactéria no entanto tem as suas protecções, os seus grupinhos activistas que andam por aí a dizer que elas são necessárias, que não podemos discriminá-las, até que não podemos viver sem elas. Quase que se atrevem a dizer que há bactérias pacíficas!

Bactérias pacíficas! Conseguem imaginar? É o equivalente de moscas da fruta pacíficas! Todos sabemos que as drosophilae são os animais voadores mais sádicos do mundo, destruindo toda a fruta da cesta no único dia da semana em que queríamos realmente comer (o dia em que a namorada nos diz que já dá para um idoso fazer alpinismo na nossa barriga).

A verdade é que a bactéria dita comensal (que vive em "equilíbrio" e "harmonia" no nosso organismo e nos ajuda em coisas como a digestão) é um ser altamente egoísta e assim que o sistema imunitário vira costas não perde a oportunidade de se multiplicar a la África Subsariana e invadir os tecidos como se fossem queijo suíço.
A argumentação de que elas nos protegem de bactérias piores também não cola, é o mesmo que escolher o Queirós para treinar a selecção: está bem que o lugar ocupado impede que seja passado para um treinador da liga Oranjina ou das regionais, mas também com o Queirós não se vai a lado nenhum!

Não havendo outra alternativa, por enquanto estamos refém da nefasta bactéria comensal, que isto não seja desculpa para não se arranjar melhor solução!

Concluindo, colónia de bactérias é como violação: o criminoso pode bem usar lubrificante e preservativo mas há coisas muito mais interessantes para fazer com o tempo perdido ali a levar com ele.

domingo, 25 de março de 2012

Olá

O meu nome não é Colombo... nem sequer sou um cavalo.

Este blog vem preencher uma lacuna na minha vida: escrever. É o sucessor do famoso *cof* "Draft of a Life", que batalhou desde 2006 para distribuir conteúdo vital à sobrevivência de cada um. No entanto partiu para a guerra com uma ferida de batalha: o nome mais piroso de sempre.

A sério, nem abreviado o nome se safava. E a certa altura é necessário começar do zero e despir o top cor-de-rosa.

Ao mesmo tempo que me debruço neste texto introdutório tenho uma amante que se rói: o Movimento Libertário. O ML é um dos grandes amores da minha vida, no entanto comporta-se como uma prostituta de classe alta, não a posso meter de quatro e entrar por ali adentro enquanto arroto, é preciso civismo, algum senso, por vezes lubrificante. Para ser mais claro, preciso de ponderar os artigos que escrevo, que estudar e tentar evitar piadas de sexo visto que o ML é realmente um projecto importante. E neste momento a faculdade exige o tempo que poderia ser usado a estudar economia e política.
Por outro lado já o cavalo Colombo é o equivalente da adolescente que se "está a descobrir": toda a gente lá passa a mão, até o pai se for preciso... e ninguém perde lá muito tempo com medo de apanhar doenças.

Quanto ao endereço bonito que escolhi, se procurarem na net possivelmente descobrem que existe uma ração com o mesmo nome. Garanto que foi pura coincidência, quando estava a pensar no nome nem sequer estava com fome! Talvez um dia conte a história de como me surgiu a ideia para o cavalo se chamar colombo, por agora fica um mistério, como aqueles mistérios do Fringe que se introduziram há tantos episódios atrás que já ninguém quer saber.

Faço desde já uma promessa: não serão aqui escritos textos em mandarim. Eu não sei mandarim.

Outra coisa, lá por eu ter ideias meio atrasadas (por vezes) e escrever como uma menina de 6 anos a quem foi administrada uma dose de cavalo (haha... não) de xarope para a tosse não quer dizer de forma alguma que seja afiliado na JCP. Espero que tenham percebido isso por também fazer parte do ML e se não gostam da ideologia libertária:
a) estudem-na antes de atirar postas de pescada;
b) deixem na borda do prato;
c) critiquem de forma construtiva.


Para os que não querem ler muito:

Não percebo o que fazem num blog, vão mas é ver TV;
O Cavalo Colombo é o sucessor do Draft of a Life e será utilizado como um "aterro sanitário do pensamento" (ah expressão bonita!)