Cada vez mais tenho vontade de criar uma religião. Por
várias razões: quero ter seguidores (é sempre uma coisa engraçada para escrever
nos cartões de visita), sinto que tenho uma capacidade de pensamento digressivo
suficiente para enfiar uns fulanos em vestes bizarras a fazerem coisas
estranhas e uma verborreia capaz de preencher um hardcover. E gostava um dia de
ver no facebook a igreja de [X] a reclamar o natal para a sua posse. Este foi
um natal de gentes egoístas que queriam o natal só para elas:
Os católicos estão cada vez mais assanhados, como grupo que
exerce cada vez menos respeito no segmento populacional da religião do politicamente correcto, corrigem em demasia atirando o chavão de herege e
derivados para tudo o que mexa e não esteja pregado a uma cruz. Dizer que o
natal é católico ou cristão é absurdo, o natal é um dia e as massas vão dizendo
o que simboliza esse dia. Há anos que simboliza prendas para todos. Hoje
simboliza a comida amarela e a véspera dos saldos pós natalícios. Eles estão
simplesmente aborrecidos porque perderam a luta dos pastores. Animem-se, há
mais não sei quantos grupos da pecuária que perderam as ovelhas para os
marxistas culturais. Ao menos vocês ainda têm roupas luzidias e muitas
capelinhas para encher com idosos.
Os ateus bacocos também não se safaram da festa (e qualquer
bom homem de religião faça o favor de me colocar neste grupo, apesar de que
bacoco é muito fraquinho para os insultos que já foram sussurrados desde o
último parágrafo), aproveitaram estes dias para espalhar a sua fé e doutrina ao
máximo. Mas estes conseguiram chegar a um absurdo maior do que comer pão e
chamar-lhe canibalismo – se o natal não é sobre Jesus ou outra religião e não é
sobre as prendas (porque admitir que o consumismo sabe muito bem é pecado para
o culto do racionalismo), é sobre o quê? Estar com a família? As reuniões de
família precisam de razão, seja um morto em cima da mesa ou um novo casal que
decidiu transfigurar avultados fundos em comida, alianças e um DJ para passar
bailaricos. Safam-se as famílias com crianças pequenas, que dão ao natal um
significado maravilhoso, fazê-las passar por parvas porque acreditam num gordo
rico, imortal e muito rápido. Mas esses não estão no facebook a dizer porcarias
porque precisam de percorrer meio país à procura de um gormiti qualquer. Os que
dizem aos filhos que o pai natal não existe, esses já estão no facebook a
demonstrar a sua superioridade em relação aos outros pais burros que gostam de
coisas mundanas como “diversão”. Se o Natal não tem significado, importam-se de
estar calados e de ficarem em casa a fazer saladas?
O meu natal foi fantástico como sempre. Desta vez foi
passado num lar, cof, perdoem-me, num “resort sénior” (não é pelo nome pomposo
que não cheira a pregas faciais mal lavadas), onde comi uma óptima refeição.
Falei com a minha família sobre temas tão interessantes como nada, nada e até coisa
alguma. Bebi para esquecer que cada vez que abria a boca era interrompido e o
menino jesus não me deixou nada no sapatinho porque a) sou herege; b) o puto
acabou de nascer e já tem que estar a fazer favores. Ainda me deram algumas
prendas decentes mas este ano nem embrulhadas foram. O pai natal deve estar com
gripe.
Um santo natal para mim, que se há inferno eu espero já ter
merecido um condomínio privado. E um bom natal atrasado para as pessoas que
precisam muito que o diga, senão ressentem-se.
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