quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

É natal, venha a comida amarela e o egoísmo


Cada vez mais tenho vontade de criar uma religião. Por várias razões: quero ter seguidores (é sempre uma coisa engraçada para escrever nos cartões de visita), sinto que tenho uma capacidade de pensamento digressivo suficiente para enfiar uns fulanos em vestes bizarras a fazerem coisas estranhas e uma verborreia capaz de preencher um hardcover. E gostava um dia de ver no facebook a igreja de [X] a reclamar o natal para a sua posse. Este foi um natal de gentes egoístas que queriam o natal só para elas:


Os católicos estão cada vez mais assanhados, como grupo que exerce cada vez menos respeito no segmento populacional da religião do politicamente correcto, corrigem em demasia atirando o chavão de herege e derivados para tudo o que mexa e não esteja pregado a uma cruz. Dizer que o natal é católico ou cristão é absurdo, o natal é um dia e as massas vão dizendo o que simboliza esse dia. Há anos que simboliza prendas para todos. Hoje simboliza a comida amarela e a véspera dos saldos pós natalícios. Eles estão simplesmente aborrecidos porque perderam a luta dos pastores. Animem-se, há mais não sei quantos grupos da pecuária que perderam as ovelhas para os marxistas culturais. Ao menos vocês ainda têm roupas luzidias e muitas capelinhas para encher com idosos.

Os ateus bacocos também não se safaram da festa (e qualquer bom homem de religião faça o favor de me colocar neste grupo, apesar de que bacoco é muito fraquinho para os insultos que já foram sussurrados desde o último parágrafo), aproveitaram estes dias para espalhar a sua fé e doutrina ao máximo. Mas estes conseguiram chegar a um absurdo maior do que comer pão e chamar-lhe canibalismo – se o natal não é sobre Jesus ou outra religião e não é sobre as prendas (porque admitir que o consumismo sabe muito bem é pecado para o culto do racionalismo), é sobre o quê? Estar com a família? As reuniões de família precisam de razão, seja um morto em cima da mesa ou um novo casal que decidiu transfigurar avultados fundos em comida, alianças e um DJ para passar bailaricos. Safam-se as famílias com crianças pequenas, que dão ao natal um significado maravilhoso, fazê-las passar por parvas porque acreditam num gordo rico, imortal e muito rápido. Mas esses não estão no facebook a dizer porcarias porque precisam de percorrer meio país à procura de um gormiti qualquer. Os que dizem aos filhos que o pai natal não existe, esses já estão no facebook a demonstrar a sua superioridade em relação aos outros pais burros que gostam de coisas mundanas como “diversão”. Se o Natal não tem significado, importam-se de estar calados e de ficarem em casa a fazer saladas?

O meu natal foi fantástico como sempre. Desta vez foi passado num lar, cof, perdoem-me, num “resort sénior” (não é pelo nome pomposo que não cheira a pregas faciais mal lavadas), onde comi uma óptima refeição. Falei com a minha família sobre temas tão interessantes como nada, nada e até coisa alguma. Bebi para esquecer que cada vez que abria a boca era interrompido e o menino jesus não me deixou nada no sapatinho porque a) sou herege; b) o puto acabou de nascer e já tem que estar a fazer favores. Ainda me deram algumas prendas decentes mas este ano nem embrulhadas foram. O pai natal deve estar com gripe.

Um santo natal para mim, que se há inferno eu espero já ter merecido um condomínio privado. E um bom natal atrasado para as pessoas que precisam muito que o diga, senão ressentem-se.

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