sexta-feira, 8 de junho de 2012

O corpo de deus e os manjericos

Exemplo de uma overdose de manjerico


Há tradições que sempre me confundiram um bocado. Uma delas é o feriado do corpo de deus. Pronto, esse nunca me confundiu, só este ano pela primeira vez soube porque é que quinta-feira não houve aulas. Mas parece-me que numa perspectiva laica do estado (apesar de participar nos cultos keynesianos e europeístas sempre se vai dizendo que não vai para a cama com padres, antes que apanhe alguma doença venérea) estar a atribuir férias para as pessoas irem à missa é aborrecido. Especialmente mau é para os ateus que saem sempre prejudicados porque ninguém lhes concede dias para irem visitar museus por obrigação. Temos sempre que andar às cavalitas dos feriados religiosos e ainda vamos comendo com boquinhas porque não vamos à igreja/sinagoga/mesquita.

Outra coisa que não faz sentido na minha cabeça é a relação entre deus, o santo X (não sou teólogo, estou-me borrifando para esta religião politeísta) e os manjericos. É algo mais ou menos parecido com a ressurreição e o coelho da páscoa mas com a agravante de em vez de comermos chocolates… não… vamos apalpar o rabo aos manjericos e chegar a mão à cara. É parvo. Pensem, é realmente estúpido. Eu que não me dou particularmente com essências naturais tenho a possibilidade de o presenciar mas você leitor tente tirar a mão da cara, pare de aspirar que não é um anúncio da depuralina e maravilhe-se com o espectáculo – toda a populaça de volta dos manjericos que parecem um grupo de raparigas quando chega o catálogo da oriflame ou os médicos quando entra na enfermaria o delegado de propaganda informação médica para fornecer canetas relógios bilhetes conhecimento.

Então para o ano já não há corpo de deus à quinta, passou para domingo. O secretariado da igreja chegou a esse acordo com o governo (provavelmente ameaçaram-nos de começar a cobrar impostos como ao resto das empresas). Os fiéis entrevistados pela sic dizem que está mal, que não é por um dia que o país fica melhor ou pior. Eles bem sabem, todos os meses a reforma lhes chega na mesma aos bolsos para irem à paróquia estufar o estômago em corpo e sangue de cristo (só falta levarem os sais de frutos na carteira), nenhum reformado foi sequer despedido pela segurança social, a crise é do fabrico dos jovens e medidas destas metem todos no mesmo saco! Mas se eu fosse deus (não estou a implicar que não sou, refiro apenas um caso hipotético que pode ou não corresponder à minha pessoa\divindade) ficava aborrecido. Não chega já mandar um filho para a terra para as pessoas idolatrarem um obeso mórbido com mau sentido estético, deixá-lo morrer para as elas rebentarem a dieta com ovos de chocolate, no dia em que era para se deleitarem no meu corpinho têm que o fazer no meu dia de descanso? Não me chega já aturar os escuteiros na missa de domingo a massacrar as guitarras?

Há muita coisa que realmente me confunde. Mas ao menos não ando aí a meter manjerico para o septo nasal.

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