quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Vá para dentro lá fora

Não sei se ainda passa na televisão (porque oh sou tão superior à TV) mas lembram-se daquele slogan ranhoso do ministério do turismo, "vá para fora cá dentro"? Parece que agora a tradição é a contrária!

"Oh não, lá vem mais um palhaço a falar sobre a emigração"

Concedo que sou um palhaço (neste tempo frio até me gabo de um nariz vermelho) mas sim, vou falar do que é emigrar e do que poderá ser a curto prazo um caminho que vou ter que seguir. Porquê? Porque da mesma forma que penso que ainda não se apurou a trágica dimensão deste incentivo mascarado à migração, a maioria das pessoas que falam à boca cheia sobre "votar com os pés" não entende os problemas que isso acarreta.

Quem decide realmente tirar os pés de Portugal não o faz de ânimo leve na maioria dos casos. A vida é repleta de escolhas e de relações custo-benefício. Tirar uma holding de Portugal para outro país não é uma escolha propriamente difícil. É ficar e ser violado repetidamente pelos impostos ou sair e ser tratado de uma forma mais digna. Mas uma pessoa não é uma holding, é um organismo inserido numa família, numa comunidade, que tem que abandonar mais ou menos fontes de prazer e de segurança para ir para um local onde as recompensas são maiores mas os riscos também. Depende muito de quem temos à frente mas em regra geral não existem muitos "batmans" ou "max payne", que não têm nada a perder em abandonar tudo.

O que é que isto nos diz? Bom, isto diz que a tendência cada vez maior de abandonar o país é reflexo de uma relação custo-benefício cada vez mais marcada, privilegiando a recompensa e pondo os custos em segundo-plano. O que é ficar em Portugal hoje para o jovem comum?

É provavelmente estar sem emprego. As oportunidades não abundam e trabalhar sai muito caro ao empregador. Quando ainda vai havendo empregador... um senhor chamado Cavaco Silva vai muitas vezes à televisão (só sei porque me contaram) e ao facebook apoiar os jovens investidores... mas o que os jovens investidores precisam é de um bom psiquiatra para cuidar da psicose. Quem é o alucinado que abre uma empresa neste país para ser drenado em impostos, produzir caríssimo devido a mil regulações e no fim não encontrar um mercado interno porque os governos sucessivos trataram de dizimar o poder económico das pessoas? Não é preciso ser um génio para olhar para os números de falências. Só abrem empresas os alucinados ou aqueles que têm a oportunidade de entrar no jogo dos monopólios estatais.

É ter a certeza que reforma é uma palavra que se aplica a eventos burocráticos do tentacular estado. Nada tem a ver com aposentação. Reforma é o que se faz à educação para dar a impressão de que existe um esforço para tratar das crianças, é o que se faz na saúde quando um ministro quer que algo funcione de outra forma (não tem que funcionar bem, apenas diferente). Os jovens não devem preocupar-se com as suas reformas... até porque não as vão ter. Aqueles descontos para a SS são o oxigénio que vai segurando o paciente com cancro do pulmão. Todos sabem o que lhe vai acontecer no final...e não é uma cura miraculosa.

Quando no passado ainda havia a oportunidade de esperar, hoje o jovem não se sente bem em casa com um ou dois pais desempregados. Tem que ir ganhar o seu pão. Se não é aqui tem que ser noutro lado.

Estes problemas vão atingindo as pessoas de forma gradual. O difícil é "cada vez mais difícil", um limite a tender para o impossível. A juventude mais ou menos formada que sai hoje de Portugal é desenraízada e substituída por imigrantes de países ainda piores que o nosso. Os que chegam cá não são portugueses. Os nossos emigrantes, quando voltarem nas férias, não vão encontrar Portugal como o deixaram. Vão ver uma colónia de outro país qualquer, vão ver uma amálgama que de portuguesa só tem os seus pais, e nem isso quando eles morrerem. E aí até os nossos "portugueses no estrangeiro" vão deixar de o ser, deixam de ter nacionalidade e passam apenas a ter passaporte de uma terra.

O "estado", ou seja, o ideal socialista que tem sido aprovado continuamente pelo povo português, vai então ter o efeito catastrófico de se matar a ele próprio ao implodir com o Portugal que conhecemos. É um fenómeno possível, basta continuar neste caminho (e a federalização apenas vai ajudar). Nesse dia, no dia em que os portugueses forem uma malha que popula em pequenas concentrações alguns locais do mundo, estes podem começar a pensar como vão reclamar um pedaço de terra para estragar tudo de novo.

Por agora vou preocupar-me com a minha sobrevivência, este povo masoquista está em segundo ou terceiro plano. Se os que me são chegados quiserem tirar os pés da fogueira, que me comprem um bilhete que eu cá não fico!

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