Os meus gostos musicais são um tanto quanto peculiares mas
vão a pouco e pouco encaixando numa certa forma igual à de tantos amigos meus:
ouvir músicas “que os nossos pais ouviam” porque hoje em dia há a ideia de que
cantar é algo que se faz com um sintetizador, implica o uso de um fedora e, no caso masculino, uma total ausência
de genitália. No caso de uma mulher, cantar implica um videoclip porque a
música é muito má a transmitir nudez (não que eu me importe muito com isso, mas
a maior parte das vezes meto a televisão em mute
para não me distrair).
Mas há dois estilos de que não me afasto muito: psytrance (e
goatrance num grau talvez um pouco menor) e Jamiroquai. Sim, Jamiroquai é uma
banda e não um estilo. Mas também há mais tablets no mercado e cada vez que
mexo na minha em público vem um palhaço perguntar-me que iPad estou a usar. Não
há ninguém como o Jami logo não faz sentido dar-lhe uma categoria.
Voltando ao psytrance.
O psytrance mantém-se relativamente fiel às suas origens e
tem características que apelam, não ao homem moderno que tem coisas como
necessidades emocionais e usa roupas que o tornam tão ágil como um hamburger no
chão, nem ao homem indie, que faz
graves reacções anafilácticas a tudo o que não tenha um filtro do instagram em
cima, mas a uma espécie muito própria. O psytrance apela ao ouvido daqueles que
querem ouvir música e não dormir, que querem ser produtivos e criativos, aos maníacos,
aos que gostam de dançar mas não percebem porque a house music passou a ser um
rap com uhn-tiss atrás. O psytrance
não dá para utilizadores de smart-shops, é demasiado sincero e não tem intenções
de pertencer ao grupinho.
Outro aspecto muito apelativo é que os artistas que produzem
este tipo de música já sabem mexer em sintetizadores com a experiência devida. Todos
eles sabem que qualquer fórmula matemática tem melhor voz que a nicki minaj,
misturá-las é criar um híbrido que necessariamente será pior do que o som puro.
Isto são tudo opiniões que não exprimem com clareza porque
gosto de psychadelic trance. Faço agora um pequeno exercício para tentar
percebê-lo: Custa-me muito a integrar-me na sociedade actual, uma em que a
maioria das pessoas toma uma decisão semi-informada de condenar uma cultura
inteira ao fracasso e destruição a médio-longo prazo. Não sendo de todo uma
comparação perfeitamente legítima, para mim e uma pequena mão cheia de pessoas,
viver no mundo ocidental é como viver com cancro. Sobreviver neste mundo
pitoresco implica uma dose cavalar (ha… cavalo colombo, sad pun) de
sadomasoquismo. Há outra solução, a tristeza e a depressão, mas entrar nesse
caminho é mais uma vez entrar no mágico mundo politicamente correcto da
vitimização, a grande droga do século XXI. Fazer um luto por um fim incerto é
tão absurdo como um matemático chorar porque não percebe como funciona uma
fórmula que nunca ouviu falar. E é para mariquinhas.
Nesta conjuntura entra o psy-trance, a marcha triunfante em
direcção a um horizonte tão animador como a sucursal dos correios mais perto de
si! É uma música que oiço em direcção ao hospital quando sei que me esperam banhos de estatismo, quando estou a ver no facebook as novidades das mulheres polvilhando frases
em helvética que nunca deviam ter visto a luz do dia e dos machos beta a
defender a colectivização dos testículos para ver se lhes calha um na rifa. É a
música que oiço enquanto escrevo e que me faz sorrir porque me lembra que a
minha sanidade mental é tão estável como um copo de água na mão de um
parkinsónico e que mais importante que passear do eu formal, criatura que fica
muito bem de fato e gravata, para o campo da insanidade “saudável”, é saber o caminho,
ir dormir a casa e voltar ao campo dos cogumelos quando é preciso.
E no fim escrever um texto de ~650 palavras e pensar que
está espectacular porque estava era com atenção à música.
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