sábado, 27 de julho de 2013

O padre que deixou de acreditar em Deus


Não há nada de científico na fé, quero dizer, ninguém tem fé em Deus (maiúscula por respeito aos amigos católicos) porque leram uma revisão sistemática ou uma meta-análise de estudos científicos publicadas em revistas conceituadas. Se um padre deixa de acreditar em Deus, apesar de caso grave e das possíveis consequências laborais, não podemos inferir que não volte a crer. Num aperto até um ateu ferrenho contempla a opção de rezar, mesmo que a ponha de lado no minuto seguinte.

O caso não é tão simples quando não falamos de uma religião mas numa corrente filosófica. Um homem crê numa certa linha de pensamento dada uma certa lógica, que quando quebrada não tem forma de se reconstruir. Se forem apresentados dados suficientemente convincentes e mais coerentes que os vigentes, pressupondo uma mentalidade que ainda não cristalizou, a probabilidade é baixa que o prevaricador volte ao mesmo caminho depois de o abandonar.

Exagere-se o caso e imagine-se que Freud era ressuscitado e deixava de acreditar em tudo o que disse anteriormente. Como faria ele para se divorciar da psicanálise? O que faria ele com os milhares de seguidores no mundo? O mais provável é que estes o chamassem de maluco, nem todas as mentes estão abertas à mudança, mesmo aquelas que o estão não trilharam o mesmo caminho que ele e como tal não tiveram tempo de atingir as mesmas conclusões ou de assimilá-las correctamente. Como se sentiria Freud no seu círculo de amigos psicanalistas? Um inimigo? Ostracizado?

Restam duas opções: a fraude ou a honestidade. Custa a crer que muitos padres e Freuds tivessem a coragem e sacrifício para virar as costas a tudo o que construíram.

Felizmente eu não sou Freud, não sou padre, não vou desapontar milhares de psicanalistas e não passei a ser satânico ou a acreditar na teoria dos humores.

Estou só à procura das palavras certas para a minha carta de meia despedida.

Sem comentários:

Enviar um comentário